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Silvia Henrique carrasqueira: enfermeira, escritora, artista plástica, ativa aos 90 anos

 

 

Qualquer texto será pequeno demais para falar sobre a vida de Silvia Henrique Carrasqueira, 90 anos. São nove décadas vividas tão intensamente que é até complicado dizer que se trata apenas de uma enfermeira aposentada. “Já fiz um pouco de tudo. Fui voluntária da Cruz Vermelha durante a Segunda Guerra Mundial, aprendi a dirigir caminhão, um Ford F-600, no sítio da família do meu marido. Lá também era quase uma veterinária”, conta.

Filha de um ferroviário de ascendência portuguesa, Silvia nasceu na Vila Histórica de Paranapiacaba, em um tempo que de histórica a vila não tinha nada. “Não era o que é hoje. Era um lugar limpo, organizado. Bem movimentado. Nós tínhamos o hábito de pegar o trem e tomar um banho de mar em Santos. Isso sem falar nos bailes. Gente de Jundiaí vinha até Paranapiacaba. Músicos do Rio de Janeiro vinham e se apresentavam”, ressalta.

Foi na vila que dona Silvia conheceu João Dias Carrasqueira Filho, também morador de Paranapiacaba, com quem viria a se casar aos 27 anos. João, cuja família era dona da padaria da vila, era outra alma inquieta. Dividia os negócios da família com a militância em favor do povoado de ferroviários. Foi vereador de 1948 a 1959. “Naquela época, vereador não tinha salário. Tinha de tirar do bolso as despesas”, ressalta.

A mudança para a região central de Santo André aconteceu nos anos 1950, época em que a ferrovia já havia trocado de mãos. Os trilhos deixaram de ser propriedade dos ingleses e passaram a ser gerenciados pelo governo brasileiro da época. “Os trens começaram a atrasar. Os ingleses eram muito severos, mas eram justos. Os brasileiros, só eram severos.”

E foi no Centro de Santo André – mas sem esquecer de Paranapiacaba – que Silvia criou os dois filhos. Dividia essa rotina com o expediente nos laboratórios de análises clínicas do Instituto Adolfo Lutz e do Hospital Beneficência Portuguesa. E também se dedicava a outra paixão: as artes.

“Sempre gostei de escrever. Quando me dava vontade, escrevia. Já escrevi até enquanto esperava o ônibus. Bilhetes para namorados, porque fui uma jovem muito namoradeira”, destaca essa fã do poeta português Fernando Pessoa. Nos textos, temas como amor, cotidiano e, como não poderia deixar de ser, Paranapiacaba.

No apartamento em que mora sozinha – pois presa a sua independência –, quadros e louças pintadas por ela enfeitam as paredes. Sim, dona Silvia também é artista plástica. Na estante, três livros de contos e poemas publicados. “Fui também artista de teatro”, completa.

Enquanto não está escrevendo – ou fazendo arte –, Silvia conversa com os amigos na internet. Por e-mail ou pelas redes sociais. 

Aos 90 anos, mantém-se ativa, com uma vitalidade de fazer inveja. Só lamenta que as mãos já não tenham a firmeza de outros tempos. Teve de largar a pintura. “Mas agora eu faço patchwork”, conta. Afinal, nunca é tarde demais para aprender algo. 

 

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